sábado, 20 de outubro de 2007

cotidiano

Na frente da minha casa mora uma senhora com sua sobrinha. Na verdade a sobrinha nunca está em casa, ela vive por aí e tem vários filhos, que deu para a tia cuidar.
O nome dessa senhora é Hilda.
A D. Hilda é muito simpática com os vizinhos e bastante amável e tolerante com os filhos da sobrinha. Só de vez em quando ela perde a paciência, porque as crianças são terríveis. Mas, de certa forma, elas fazem companhia para a senhora que vivia solitária.
Ela nunca se casou, nem teve filhos; durante muitos anos morou sozinha naquela casa. Aliás, morava com seus passarinhos e uma cadela, que eu ajudei a dar banho algumas vezes.
A senhora dificilmente aparece na rua e a casa só possui uma janela, que agora está cheia de grades por causa das crianças. O menino maior gosta de ficar olhando o que acontece do lado de fora pelas grades da janela, tem dias que ele passa horas e horas lá. A minha mãe diz que ele lembra o meu irmão quando pequeno, só via a vida pela janela da casa...
A menina menor nasceu há poucos meses e está sempre chorando. Deve sentir falta da mãe, ou do leite da mãe... O menino maior nem chora mais.
Às vezes, a senhora senta-se na sua calçada e fica olhando pro céu durante um tempão. E eu fico imaginando o que ela deseja naquele momento. Será que ela está esperando alguém chegar?
Eu não sinto pena da D. Hilda, pelo contrário, a admiro por ser uma mulher forte que cuida dos filhos da sobrinha irresponsável. É bom conversar com ela. E eu sei que ela se parece demais comigo, porque vive só e sente a imensa necessidade de um amigo...